Consultamos a influencer 60+ Rosangela Marcondes sobre os termos associados ao etarismo. Você vai se surpreender com suas respostas.
Rosangela, 68 anos: contra os modismos
A influenciadora 60+ Rosângela Marcondes, de 68 anos, comanda os perfis @it_avó no Instagram e Domingos Açucarados no Facebook. Em uma entrevista recente para a jornalista Maria Tereza Gomes, da coluna 50+ Vida & Trabalho, publicada pela revista Época Negócios, a mineira de São Sebastião do Paraíso, no sudoeste de Minas Gerais, na divisa com São Paulo, disse: “Me deixem ser velha”, ao comentar que não quer fazer intervenções no rosto para parecer mais jovem. Ela usou a palavra ‘velha’ sem qualquer cerimônia, o que nos motivou a consultá-la sobre alguns dos termos discutidos no post “Manual da comunicação contra o etarismo para profissionais de conteúdo”, publicado neste blog por Maria Tereza. Você verá que nem sempre as duas concordam. Abaixo, as respostas de Rosângela:
Você fala a palavra velha com muita naturalidade. Você prefere velha a idosa?
Eu prefiro velha porque já fui criança, adolescente, adulta e, agora, sou velha. E veja, este é o tempo que a gente mais vive. São 40 anos como velha, e a gente tem que normalizar isso. As empresas fazem a maior festa quando atingem 100 anos, 90 anos, 70 anos. Por que nós, que somos uma grande marca, não podemos celebrar as nossas velhices com essa intensidade? A tradição, a velhice, o envelhecer. Eu gosto de velha, mas a lei pede para ser “pessoa idosa”. Gosto de ser entendida como velha, uma pessoa velha, porque para mim tem esse sagrado que eu gosto. Não que velha seja santa, mas não perco a oportunidade de falar que eu sou uma velha.
Quando se fala de um grupo, qual termo você prefere: idosos ou pessoas mais velhas?
Aí a gente cai em “pessoas 60+” e “pessoas idosas”. Eu acho que a gente vai incutindo na cabeça que são pessoas idosas. Acho que fica mais politicamente correto.
Você tem algum problema com a palavra aposentada?
Nenhum. Eu acho um privilégio porque a pessoa trabalhou, teve sua vida e chegou nesse ponto. Se ela foi responsável, se organizou, vai aproveitar porque é muita vida para ser vivida. Então, acho um luxo ser aposentada, porque você não morreu. Você cumpriu a sua participação enquanto profissional e ainda pode desfrutar dessa pós-aposentadoria. Dá para fazer muita coisa com o tempo que sobra.
Estou muito animada e querendo muito ser velha, virar um maracujá. Meu marido pergunta se vou dar conta de ser essa velha (...) Quero tentar. Até hoje, consegui ser velha. Eu me sinto confortável. A questão é que ainda não quero fugir de mim. (Rosangela Marcondes, na revista Época Negócios)
E o que você acha do termo melhor idade?
Melhor idade é um besteirol. A melhor idade sempre foi uma expressão ruim. Não faz sentido, não porque não seja, mas porque não é uma forma gentil, educada, de falar desse período tão próspero, com tanta potência. Porque existem, sim, danos e bônus, deveres e direitos. Não é diferente de nenhuma fase da vida. Então, tem que acabar com essa bobagem de que a gente foi para a velhice e virou o caos. É uma etapa da vida que tem muita coisa para ser feita, que a gente precisa enaltecer, porque é muito tempo para viver.
Você tem algum problema com o termo meia-idade?
A meia-idade não dá para entender. O que é meia-idade? Seria a metade de 100 anos? Se a gente tem expectativa de viver 80 anos, seria aos 40? Na verdade, eu acho que os modismos matam. Eu tive menopausa, mas estava tão ocupada fazendo as minhas coisas que achava que aquilo era um processo. Viver é isso. E aí você vai lidando com todas as coisas. Hoje, tudo é uma neurose. Agora, esclarecer, ajudar as pessoas é uma coisa, mas fazer disso um inferno, acho que é demais. Deveríamos ser mais gentis com as mulheres, falar sobre isso como um processo, como vida que flui. Não é ser romântico, mas fico um pouco incomodada com os modismos, com o excesso de coisas; queria que a vida pudesse ser mais leve para não adoecer as pessoas.
O que é a velhice?
O velho não é santo e nem é bonzinho. E a velhice é um universo para ser explorado. As velhices são muito diversas, mas é como falar de adolescência, de juventude, de nascimento, de crianças.